13 de abril de 2014

Novas brisas

Querido leitor,
devido a problemas técnicos com o domínio deste blog, agora escrevo aqui. 
Que  boas e novas  brisas tragam você!
Um abraço carinhoso.

Rita Schultz


28 de março de 2014

Composição


Desato dores
- malmequeres bem
- bem-me-queres mais.
Amanheço por insistência
de água e fome.

Na terra quente
cavo a semente ancestral.
Estamos quites,
meu corpo
- filete em sopro
e as armas do dia.
Nossa memória é mútua
pelas raízes,
por cima das cruzes.

E isso é tudo:
vermelho púbere
- útero entre paredes
a compor a duração do tempo.


3 de março de 2014

Miniconto de Verão II



Os últimos instantes passou-os observando a rua. Toda a manhã correu para lá e para cá e fitava a rua. Sentia que em toda a sua vida passaria olhando a rua. Apesar do calor, da secura do dia sólido, -verão é para gente forte, contemplava a rua vazia. Não sabia até onde poderia ir sua espera, tão seca, tão funda, sem fim, a olhar a rua vazia.  Haveria um rosto, - um espelho, um eco a atravessar o céu, naquele dia, na rua vazia? Uma água clara, pura, que salvasse o corpo até ali, na raiz funda, ali mesmo onde se tem medo? Medo de chegar à rua vazia e  gritar como no fundo do poço, o que o tempo tem a nos tirar? Os últimos instantes passou-os, assim, tão simplesmente,  a construir  sua vida. Tão simples. Vazia.


Miniconto de Verão



Da aspereza do dia veio o amanhecer e, junto a ele, os deveres. Obrigações. O ar da manhã tinha cheiro de dama da noite sonolenta. Pela rua deserta o cão zombava dos postes. Pensou na conta bancária e em como os dez mandamentos foram chauvinistas. Proferiu um ‘fiat lux!’ irônico e inaudível. Num piscar de olhos atravessou a praça. A mochila doía-lhe os ombros na orgia do inferno tropical. Decretou que teria seis dias de vadiagem e um para nada mais. E pensar que nunca tinha queimado um sutiã! Sentiu-se abominável, quase uma deusa na convivência entre os mortais. Entretanto, pisou o ranço da sarjeta em meio a cacos de vidro. Distanciou-se entre as ondas do asfalto quente. E foi.

15 de outubro de 2013

para um dia de professor



se cada cansaço ao fim do dia vem
quando a noite chega
há que enfrentar cada obstáculo
e escrever luz com ternura
na lousa nossa  
de cada amanhecer