3 de março de 2014

Miniconto de Verão



Da aspereza do dia veio o amanhecer e, junto a ele, os deveres. Obrigações. O ar da manhã tinha cheiro de dama da noite sonolenta. Pela rua deserta o cão zombava dos postes. Pensou na conta bancária e em como os dez mandamentos foram chauvinistas. Proferiu um ‘fiat lux!’ irônico e inaudível. Num piscar de olhos atravessou a praça. A mochila doía-lhe os ombros na orgia do inferno tropical. Decretou que teria seis dias de vadiagem e um para nada mais. E pensar que nunca tinha queimado um sutiã! Sentiu-se abominável, quase uma deusa na convivência entre os mortais. Entretanto, pisou o ranço da sarjeta em meio a cacos de vidro. Distanciou-se entre as ondas do asfalto quente. E foi.

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